.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Review: A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2


É impressionante a popularidade da Saga Crepúsculo no Brasil. Seus filmes já quebraram vários recordes de estreia por aqui, é um dos assuntos mais comentados nas redes sociais no momento, e lotam as salas de exibição. Tive que comprar ingresso antecipado para assistir sua conclusão em plena quarta-feira, e encarar uma sala completamente cheia, mesmo sendo exibido em duas ao mesmo tempo. Isso é um mérito da saga, pois atraiu para o cinema muitos que não tinham o hábito de frequentá-lo, e independente de sua qualidade, se tornou mesmo um fenômeno.
 
Quanto ao filme, bem, esse é o problema. Os últimos filmes de sagas cinematográficas tendem a ser os mais empolgantes e os melhores. Ao assistir seu trailer, percebi que haveria mais ação e, talvez, menos enrolação que os outros. Dei um voto de confiança e decidi conferir nos cinemas. Não esperava muito, mas acreditei que iria oferecer algo único que não havia nos outros filmes. Algo que fizesse até mesmo quem não é fanático pela história se empolgar, e aquela era a última chance que a saga tinha para se provar realmente interessante.
Durante metade do filme, acompanhamos toda a adaptação de Bella (Kristen Stewart) à sua vida vampiresca. Ela deve aprender a lidar com seus novos poderes, a caçar animais e a resistir ao sangue humano. Bella e Edward (Robert Pattinson) não cansam de repetir seus votos de amor eterno, algo que eu não esperava mesmo que fosse descartado nem mesmo no último filme, afinal, foi assim que a saga conquistou o coração de tantos fãs que acreditam nesse amor verdadeiro e imortal. A filha do casal, Renesmee (Mackenzie Foy), cresce a uma velocidade anormal, e Jacob (Taylor Lautner) acaba tento um imprinting por ela (espécie de amor à primeira vista, coisa de lobos). Quando a vampira Irina (Maggie Grace), parente da família Cullen, vê Renesmee desenvolvendo seus poderes, ela denuncia ao clã dos Volturi, liderado por Aro (Michael Sheen). Eles acreditam que a garota pode ser uma criança imortal, que não consegue controlar a sua sede, e causar grandes problemas à existência secreta dos vampiros. O clã decide eliminar a menina, e os Cullen prevendo uma possível batalha através das visões de Alice (Ashley Greene), tentam reunir um pequeno exército de vampiros para ajudá-los. Somos apresentados então a vampiros vindos de várias partes do mundo. Egípcios, irlandeses, brasileiros, todos construídos na base de estereótipos, é claro, e cada um com seu poder especial, uma espécie de X-Men com olhos vermelhos e dentes afiados. Até a sequência da esperada batalha, há enrolação e mais enrolação. Sim, alguns momentos são divertidos, uma cena ou outra traz certa seriedade, mas nada que nos mantenha completamente presos à trama e ligados aos personagens principais e seus dramas. 
A atuação de Kristen e Robert é relativamente superior a dos outros filmes da saga. Na verdade, creio que o problema não seja mesmo os atores e sim, seus personagens. Quando é falado que Bella nasceu para ser vampira, podemos acreditar de fato, pois após ser transformada ela deixa de ser aquela garota humana melancólica e sem graça para se tornar uma mulher com mais vida do que nunca. Até aí, deu também para notar o nível técnico em que se encerra a saga. À exceção dos lobos, que eu creio serem bem convincentes desde sua aparição em Lua Nova, nenhum efeito conseguiu me convencer o suficiente até então. Alguns realmente são ridículos. Os ambientes inseridos via chroma key nas cenas em que Bella corre pela floresta para caçar são vexatórios. Na verdade, não havia necessidade de colocar vampiros se movendo na velocidade da luz o tempo todo para percorrer dois metros, mesmo que ficasse bem feito. Os poderes dos vampiros “X-Men” também ficaram mal trabalhados visualmente. A maquiagem excessiva nos atores chegou até a deformá-los em alguns momentos, ou seriam muitos efeitos focados em um só rosto (bebê Renesmee, se bem que ficou até bonitinha)? É difícil acreditar como em pleno ano de 2012 ainda não conseguiram atingir o nível de realismo em certas cenas que se espera de um filme de tal porte. Quando assisti ao trailer, achei que finalmente essa questão não seria mais um problema, pelo menos não nesse último filme. Bem, me enganei, até chegar o momento da batalha e o negócio melhorar bastante.
Confesso que fiquei surpreso com a maneira como a batalha realmente se iniciou. As exclamações ouvidas no cinema só provaram que era algo que muitos não esperavam, mas que funcionou perfeitamente para aumentar a carga dramática e a tensão que seriam colocados para fora nas cenas seguintes. Deu para acreditar que os Cullen, agora, realmente tinham um motivo concreto para lutar. E sim, ficou bem empolgante. Lobos, com garras e dentes afiados atacando com toda a ferocidade ou até mesmo uivando e guinchando de dor, se juntam a vampiros numa mistura que finalmente ficou comprovada que podia funcionar. Cada um utilizando seu poder específico para derrotar o oponente, e Bella, usando seu escudo para proteger seus aliados, mostrou a que veio. Se bem que o “poder” que mais utilizavam mesmo era o braçal, pois cabeças eram arrancadas com as mãos e literalmente rolavam por toda a parte. Talvez tenha sido o único problema da cena, pois pescoços se partiam com facilidade demais e sangue de menos. Na verdade, nada de sangue, não sei o que os vampiros têm por dentro então, já que essa é sua refeição favorita. Mas, tecnicamente, foi uma sequência que deu certo e era o que faltava numa história tão parada e que não se movia para lugar nenhum.
 E chega o momento em que Edward e Bella juntos, em uma cena até bonita de se ver por conta da união do casal contra o perigo e o adversário potente, dão-se conta do que seria o desfecho da batalha, que resultou em grandes perdas para os dois lados. Isso é algo que faria o filme valer a pena no final, por ter passado o tempo todo tentando nos fazer acreditar que os personagens principais realmente estavam em perigo, que uma guerra poderia mesmo acontecer e causar danos a todos. Sanaria muitos dos defeitos do longa até o seu clímax. E eu sairia do cinema satisfeito por ver um filme de conclusão decente. Mas quando finalmente conseguiram contar uma história de fato, me empolgar e me entreter, cometem a pior bobagem que eu não poderia sequer imaginar como desfecho nem mesmo para uma saga como essa. Claro, não posso falar o que é, mas é o suficiente para desapontar e decepcionar qualquer um, até mesmo muito dos fãs (sim, ouvi alguns deles reclamando e dizendo não acreditar naquilo, ou que ficou sem graça). Sem graça é pouco. Uma sequência bem feita, que chocou e fez as lágrimas de alguns caírem, engana a todos e termina de uma maneira que não move a história para lugar nenhum. Já tinha o suficiente para ser uma história bacana e interessante, até mesmo passar uma certa mensagem (afinal todos se sacrificaram pela sobrevivência de uma menina indefesa e da conservação de uma família), mas a covardia de um personagem (e da autora do livro, da roteirista do filme e de seu diretor) não permitiu que a história seguisse em frente e tivesse esse final dramático, mas eficaz. Simplesmente, acaba com o que o longa oferecia de mais interessante.
Ficamos duas horas sentados para absolutamente nada acontecer no fim, a não ser Bella e Edward Cullen trocando seus “eu te amo” mais uma vez, como se ninguém já não soubesse o quanto um não consegue viver sem o outro. Já são casados, têm uma filha, e ainda conseguem arrancar suspiros de algumas pessoas ao declararem pela milésima vez seu amor recíproco. A última cena, apesar de já ser capaz de arrancar lágrimas de nostalgia dos fãs e ter uma bela canção que encaixa muito bem com o que vemos, destrói toda a caracterização de Bella como uma mulher valente, protetora, e até mais independente depois de se tornar vampira, e retoma sua imagem de menina indefesa, desprotegida, depressiva, que não consegue mais ser feliz longe de seu amor verdadeiro, e que abre mão de tudo, até mesmo de sua própria existência em nome dele. A mensagem que toda a saga me passou com essa conclusão que eu já deveria ter esperado e imaginado é de que o amor nos absorve ao invés de acrescentar, de que é válido fazer absolutamente tudo em nome dele (até mesmo se arriscar e considerar o suicídio como uma porta de escape, como o casal fez em Lua Nova) e que a razão de sermos, de existirmos e de respirarmos é aquele ou aquela que amamos. O amor vale a pena sim, é bonito, mas não é esse conto de fadas que tentaram nos passar durante cincos filmes cansativos, não existe tal ilusão de que basta termos um ao outro e pronto, não há mais problemas para se preocupar e seremos felizes para sempre. Gosto muito de certas histórias de fantasia, que mesmo sendo mais irreais do que vampiros e lobos, conseguem atingir um realismo bem maior em relação aos nossos sentimentos e relações, até mesmo nos ensinar algo concreto e verídico, mais do que essa “saga” se propôs a fazer. Não queira tirar lições e ensinamentos dela, porque sonhar com tal satisfação e realização emocional é viver um pouco fora da realidade. No fim, vi que toda essa visão surreal e utópica do amor, que esteve presente desde o primeiro filme, seria mantida até seu último segundo, pois é a sua linha mais forte de mensagem e é o que fisgou os corações de tantos ingênuos. Porém, acreditar em uma fantasia maior do que essa seria impossível.
Apesar do final desastroso (principalmente para os não seguidores da saga), mas idêntico a seus antecessores, o longa mostra um avanço e consegue ser o melhor entre os cinco filmes, o que ainda não é grande coisa. Foge daqueles conflitos tolos que o triângulo amoroso encenava, consegue oferecer uma certa dose de humor e deixar os fãs mais do que empolgados em algumas cenas, pelo menos até certo ponto. Quem aguentou até o quarto filme, vai digerir esse com mais facilidade se conseguir engolir bem a falta de ousadia que acabou o estragando.





Por Samuel de Alcântara

A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2 (The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 2).
117 min. Romance – 2012 (Estados Unidos)
Dirigido por Bill Condon. Com: Kristen Stewart, Edward Pattinson, Taylor Lautner, Peter Facinelli, Ashley Greene, Elizabeth Reaser, Billy Burke, Nikki Reed, Kellan Lutz, Jackson Rathbone, Mackenzie Foy, Maggie Grace, Lee Pace, Mia Maestro, Christian Camargo, Rami Malek, Dakota Fanning e Michael Sheen.

1 comentários:

Resumindo, nos fizeram de bobos por ter pago por um filme que não poderia acontecer, já que desde o início eles jogaram na nossa cara que a Alice não poderia ter uma visão com lobos, mas o filme inteiro foi uma visão dela, com lobos... COMO SENHOR? COOOOMO ELA CONSEGUIU ISSO DO NADA?

Postar um comentário